Taís Farias
10 de junho de 2025 – 18h45
Em abril, um levantamento do UNCTAD, órgão da Organização das Nações Unidas para o comércio e desenvolvimento projetou que o mercado global de inteligência artificial deve alcançar US$ 4,8 trilhões até 2033. Antes, no ano passado, a Bain & Company já havia estimado que a IA movimentasse até US$ 990 bilhões em 2027.
Ronaldo Lemos, advogado, professor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (Crédito: Máquina da Foto/ Eduardo Lopes)
Nesse cenário, uma série de companhias de tecnologia disputam em uma corrida e pelo domínio e a preferência entre os modelos de inteligência artificial. Advogado, professor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Ronaldo Lemos analisa a posição dos principais players.
Na liderança, hoje, está a OpenAI com um market share de 34% do mercado de modelos fundacionais. No ano passado, o share da companhia era de 50%. “Então, caiu de 50% para 34% do mercado. Por quê? Porque o mercado está ficando cada vez mais competitivo”, explica Lemos. Em valor de mercado, a companhia está avaliada em US$ 300 bilhões e levantou, recentemente, US$ 40 bilhões para investir na sua operação.
“É uma empresa que está bem capitalizada e que tem, o que eu acho que é o mais significativo, a maior base de usuários neste momento. A OpenAI tem hoje 250 milhões de usuários do ChatGPT e ambiciona chegar ao final deste ano com 1 bilhão de usuários”, explica o advogado.
Quem também compete nesse páreo é o Google, que com a sua vertical Deep Mind investe massivamente no Gemini. Segundo Lemos, a big tech lidera na categoria de reasoning, ou seja, modelos capazes de gerar conclusões a partir do conhecimento disponível. Só em 2025 o google anunciou que investirá US$ 75 bilhões no Gemini.
“E, obviamente, o Google tem uma vantagem competitiva incrível que é a penetração da empresa, seja no mercado de buscas, seja no Android, nas plataformas que a empresa tem hoje”, aponta o professor. Com investimentos da Amazon e do próprio Google, o Claude, modelo da Anthropic, tem apresentado um crescimento significativo.
A companhia defende como diferenciais do modelo uma abordagem segura e ética da IA. Neste ano, a companhia deve receber de US$ 14 a US$ 18 bilhões de investimento. Já sua avaliação no mercado está em US$ 61 bilhões. Outra gigante digital, a Meta mantém o LLaMa. “É um modelo de IA que tem uma característica fundamental, que é o fato dele ser open source. Ele é código aberto. O que significa esse código aberto? Você pode pegar a IA da Meta e rodar no seu servidor. Você pode retreinar o modelo da Meta”, explica Lemos.
Hoje, a Meta reúne uma participação de 16% com 350 milhões de downloads no LLaMa. “Outra coisa importante da Meta é que tem muita infraestrutura. A meta tem muito data center. As redes e plataformas da Meta, obviamente, são acessadas hoje no mundo por 3,2 bilhões de pessoas. Isso faz com que a Meta não seja um competidor para ser esquecido nesse mercado”, defende o advogado.
Por fim, quem completa o páreo pelo domínio do mercado de IA é o DeepSeek, um modelo chinês de open source. Um dos diferenciais do DeepSeek é seu baixo custo de treinamento que fica em cerca de US$ 5 milhões.
“Quando ele foi anunciado, exatamente pelo baixo custo, ele derrubou as ações da Nvidia em US$ 500 bilhões, algo como o PIB do Brasil. Só por causa do lançamento do DeepSeek. Claro que a Nvidia se recuperou. As ações voltaram a subir, mas o DeepSeek entrou no imaginário do mercado como um competidor muito poderoso. Até porque, no mercado chinês, o DeepSeek é dominante”, conta Lemos.
Quem vai vencer a corrida da IA?
Para Ronaldo Lemos, há dois meses, o Google era a companhia com maior disposição e recursos para liderar esse mercado e o potencial da IA. Mas acontecimentos recentes mudaram sua opinião. Isso porque a OpenAI anunciou a compra da empresa de tecnologia de Jony Ive, creditado como um dos principais designers do iPhone, e devem entrar no setor de hardware.
“No ano que vem, a promessa da OpenAI é que eles irão lançar um dispositivo. Ninguém sabe como é. Provavelmente, você vai carregar no bolso ou em algum lugar e ele vai conectar a sua vida o tempo todo com IA e vai organizar onde quer que você vá”, aposta o pesquisador.
Ele também vê o desentendimento entre Elon Musk e o presidente norte-americano Donald Trump como uma vantagem para a OpenAI. “Com a saída do Elon Musk do circuito, o projeto de infraestrutura do Altman [Sam Altaman, CEO da OpenAI], que é o Stargate, vai decolar. É um projeto de investir US$ 500 bilhões para construir data centers nos Estados Unidos. E a OpenAI, basicamente, é quem vai coordenar esse projeto”, defende.
Mas, Lemos destaca ainda um outro vencedor: “O vencedor mesmo, na minha opinião, pessoal, quem vai ganhar a batalha da IA são as inteligências artificiais open source. O modelo fechado não tem como competir com modelos abertos”.